Tente imaginar o mundo daqui a 20 ou 30 anos. Será que alguém espera que os próximos vinte anos sejam menos tumultuados do que nos últimos vinte?

Diante de mudanças esperadas em tecnologia, biologia, valores sociais, demografia, meio ambiente e nas relações internacionais, com que tipo de mundo a humanidade poderá se deparar?  Ninguém pode afirmar com certeza, mas uma coisa é razoavelmente certa: contínuos desafios irão convocar nossa capacidade coletiva para lidar com eles. Você está envolvido, de fato, em uma grande aventura de exploração, risco, descoberta e mudança, sem qualquer mapa que lhe mostre o cenário completo e lhe sirva de guia.

Na verdade, os líderes podem ser chamados de exploradores de mudança organizacionais. Eles estão tentando reagir rapidamente a mudanças externas e a pensar criativamente sobre o futuro. Desejam relacionamentos mais intensos, maior confiança e um “jogo” mais aberto. Desejam também liberar os talentos e o entusiasmo naturais de seus funcionários. Esperam genuinamente se aproximar mais de seus clientes. Com tudo isto, eles estão lutando por configurar seu destino e alcançar, assim, o sucesso financeiro a longo prazo.

MATURIDADE DA MUDANÇA

Estudos realizados comprovam que muitos programas de mudança fracassam, apesar dos substanciais recursos alocados ao esforço de mudança, de pessoas talentosas e comprometidas. Para compreender por que a sustentação de mudanças significativas é tão evasiva, temos que pensar como biólogos. Todos os organismos individuais, de humanos a besouros, crescem de acordo com o mesmo padrão: aceleradamente no início, e depois gradualmente mais devagar até atingir o estágio “plenamente” adulto. As populações biológicas crescem da mesma forma: acelerando-se por um certo tempo e depois desacelerando-se gradualmente. Este padrão se repete sempre na natureza devido à forma como a natureza gera e controla e controla este crescimento.

VELOCIDADE DA MUDANÇA – CURVA DE MATURIDADE DE UMA MUDANÇA

Todo o crescimento na natureza advém de uma interação entre processos que reforçam o crescimento e processos que o inibem. A semente contém a possibilidade de gerar uma árvore, mas ela concretiza esta possibilidade por meio de um processo emergente que reforça o crescimento.

As raízes primitivas absorvem a água e nutrientes. Estes elementos as fazem se desenvolver mais ainda, necessitando de mais água e nutrientes, e assim por diante. O processo inicial de crescimento está feito. Mas até que ponto ele vai progredir depende de muitos fatores: água, nutrientes no solo, espaço para as raízes se desenvolverem e calor.

Quando o crescimento para “prematuramente”, antes que o organismo atinja seu potencial, é porque encontrou restrições (resistência) que poderiam ter sido contornadas, que não são inevitáveis. Outros membros da espécie crescerão mais porque não se deparam com as mesmas restrições.
Qualquer limitação particular mencionada anteriormente – água, nutrientes ou espaço insuficientes para as raízes – poderia impedir que a semente se desenvolvesse.

O que a biologia pode, então, nos ensinar sobre o crescimento e a morte prematura de iniciativas de mudança organizacional?
Primeiro, ele sugere de imediato que a maioria das estratégias de liderança está fadada ao fracasso desde o início. Os líderes que instigam mudanças são geralmente como jardineiros prostrados diante de suas plantas, implorando: Cresçam! Tentem com mais afinco! Vocês podem! Nenhum jardineiro tenta convencer uma planta a “desejar” crescer: Se a semente não tiver o potencial de crescimento, ninguém poderá fazer nada para mudar a situação.

DESEJO: CONSCIÊNCIA INDIVIDUAL

Os líderes deveriam se focalizar principalmente nos processos limitantes que poderão retardar ou impedir a mudança. O jardineiro tem que compreender os fatores que podem restringir o crescimento e dispensar atenção a esses fatores.

Por que haveria de ser diferente para os líderes que procuram sustentar uma mudança significativa? Incitar as pessoas para que tentem mais arduamente, para que se tornem comprometidas, para se entusiasmarem, mas não pode, de modo algum, surtir efeito muito duradouro.

O mundo biológico dos processos nos ensina que a sustentação da mudança requer compreensão dos processos que estimulam o crescimento e do que se faz necessário para catalisá-los, e abordar as restrições que impedem que a mudança ocorra.

Portanto nos deparamos com questões que mostram o verdadeiro problema: muitos líderes são ótimos em dar direções de mudança a terceiros, mas não tão bons em mudarem a si mesmos. Também o hábito arraigado de se atacar os sintomas e ignorar as causas sistêmicas mais profundas dos problemas.

Um comprometimento compartilhado para a mudança somente se desenvolve se tivermos uma capacidade coletiva de gerar aspirações compartilhadas. As pessoas só começam a discutir as questões “indiscutíveis” quando começam a desenvolver habilidades de reflexão e indagação que as permitam falar abertamente sobre questões complexas e conflitantes sem assumir uma atitude defensiva.

Muitos líderes focalizam-se nas mudanças que estão tentando produzir e deixam de reconhecer a importância da capacidade de aprendizagem. Isto é como tentar fazer uma planta crescer, em vez de compreender e abordar as restrições que a impedem de crescer.

A sustentação de qualquer processo de mudança profunda requer uma mudança fundamental na maneira de pensar. Precisamos compreender a natureza dos processos de crescimento (forças que apoiam nossos esforços) e saber como catalisá-los. Mas também temos que compreender as forças e os desafios que impedem o progresso, e temos que desenvolver estratégias viáveis para lidar com estes desafios. Precisamos analisar a dança das mudanças, a inevitável interação entre processos de crescimento e resistências – restrições.

Portanto, devemos pensar as mudanças de forma mais biológica e menos mecanicista.

Requer tanto paciência quanto urgência. Requer um verdadeiro espírito de investigação, uma genuína curiosidade sobre as forças restritivas. Uma mudança começa localmente, pequena, e requer que entendemos como ela cresce ao longo do tempo.

Peter Senge: A Dança das Mudanças – A Quinta Disciplina

Editora Campus, 2000

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