Várias cabeças sempre pensam melhor que uma.

Quando isso não acontece é porque elas não estão trabalhando em time.

Era uma vez, três lavradores que trabalhavam juntos. Cada um tinha uma função: o primeiro era encarregado de abrir buracos na terra; o segundo jogava as sementes dentro deles; a tarefa do terceiro era ir tapando os buracos que já tinham sido abertos. Um homem que passava pelo local viu os dois e perguntou: “Mas o que é que vocês estão fazendo?” Eles responderam: “Estamos plantando sementes.” O homem, então, comentou: “Mas que sementes?! Vocês não repararam que o encarregado de jogá-las não veio trabalhar?”.

Esta é a história que Magali Bredariol, gerente de RH e desenvolvimento organizacional da Stefanini, empresa de tecnologia da informação com matriz em São Paulo e unidades na Europa, Estados unidos e América Latina, costuma contar quando alguém lhe pede uma definição sobre o que é trabalho em grupo. O que, para ela, é bem diferente de trabalhar em equipe.

“Costumo dizer que equipes são grupos que evoluíram”, define.

O trabalho em equipe pressupõe que os membros do time saibam o que os outros estão fazendo e, dependendo do caso, possam até substituí-lo. No grupo é cada um por si. Já a equipe funciona na base do um por todos e todos por um.

Paula Caproni, em seu livro Treinamento Gerencial (Editora Makron), afirma que “Embora grupos e equipes sejam compostos de indivíduos trabalhando em nome de objetivos comuns, os times tendem a desenvolver uma meta coletiva que vai além daquela que a organização determinou para eles”.

Para Fela Moscovici, autor de A Organização por Trás do espelho (José Olympio Editora) “Além, da eficiência, a afetividade que aparece no grupo também precisa ser levada em conta”.

Segundo ela, o ser humano se relaciona com os outros basicamente em dois níveis: no cognitivo e no socioemocional. Nesse sentido, e experiência de trabalhar em grupo é muito rica, pois propicia essas duas vivências. Acontece que um grupo não se torna equipe naturalmente, por decurso de prazo. É preciso muito esforço e dedicação. Um time é um time quando passou do estágio em que busca apenas resultados financeiros. Existe a preocupação real com o bem-estar das pessoas. “Em uma equipe deve haver sinergia, e isso é mais do que a soma dos esforços individuais”, comenta Fela.

Como ela escreveu em seu livro, nas equipes de alto desempenho que são o modelo ideal, as competências emocionais têm tanta importância quanto os fatores técnicos e cognitivos. Autoconsciência, controle emocional, intuição, empatia, comunicação eficiente, e relacionamento sadio entre os membros do grupo – tudo isso entra no rol da competência emocional da equipe.

Paula Caproni diz que os times de alta performance têm seis características básicas:

  1. Limites precisos
  2. Objetivos comuns
  3. Papéis diferenciados
  4. Autonomia
  5. Dependência de recursos externos
  6. Responsabilidade coletiva.

TUDO É PRIORIDADE

O trabalho em equipe pode ser olhado por dois aspectos: um se refere à atividade e outro ao processo.

A atividade se relaciona com a esfera do trabalho, das regras, da rotina, da técnica, do que vai ser realizado para produzir determinado resultado. Os gestores que privilegiam a atividade costumam exercer o tipo de liderança conhecida como científica ou técnica.

O processo explica como a atividade será feita e tem a ver com as competências emocionais. O líder tem de procurar estabelecer o equilíbrio entre esses dois aspectos.

CAMPO MINADO

Uma característica do trabalho em equipe se refere ao processo de tomar decisões.

Decidir em grupo costuma ser mais demorado porque é preciso chegar a um ponto comum em que todos, ou pelo menos, a maioria, concordem”, diz Luis Carlos Barchechen, coordenador de RH da Landis+Gyr.

Patrick Lencioni, autor de Os % Desafios das Equipes (Editora Campus) afirma que a ausência de conflito é uma das armadilhas do trabalho em equipe. Em seu livro, ele sugere que o líder pode fazer para tentar as situações delicadas que podem surgir durante um trabalho em equipe. Afinal, em toda equipe, todos estão por todos. Então não custa tentar!

1. Falta de Confiança
O que o líder deve fazer
O ponto de partida é mostrar a própria vulnerabilidade. Se o líder, que é o exemplo, agir dessa maneira, os membros do grupo também vão se sentir compelidos a fazerem o mesmo.

2. Falta de conflito
Em alguns casos, o consenso exagerado não vem do fato de as pessoas terem um perfil parecido ou concordarem em tudo. Às vezes, o que está por trás disso é a falta de confiança. Inseguros, os membros da equipe começam a evitar polêmicas.
O que o líder deve fazer
O líder deve deixar resolvam seus conflitos para que aprendam a lidar situações difíceis. O líder só deve interferir quando realmente necessário.

3. Falta de comprometimento
O que o líder deve fazer
É preciso levar a equipe a concluir o que se propôs a realizar  e, muito importante, dentro do prazo estabelecido. O líder também deve encarar com naturalidade o fato de que algumas de suas decisões podem, com o tempo, se revelar erradas.

4. Falta de responsabilidade
O que o líder deve fazer
O trabalho em equipe vai de vento em popa quando todos sabem o que estão fazendo. Isso ativa o mecanismo de autorregulação do grupo. Assim não caberá só ao líder, mas a todos os componentes cobrar pela execução de tarefas que ainda não foram realizadas. Instituir prêmios pela performance coletiva também é um bom jeito de estimular o senso de responsabilidade.

5. Falta de atenção
O que o líder deve fazer
Cabe ao chefe a tarefa de determinar a disposição que as pessoas devem ter no trabalho e para atingir os resultados. Se ele mesmo não dá mostras de entusiasmo, de que se importa com o assunto, como pode esperar algo do time?
Como se vê, trabalhar em equipe pode ser muito simples, mas também muito complicado. Depende do ponto de vista.

Márcia Rocha

FONTE: Revista VOCÊ S/A. Edição 60  Junho 2003 (Texto adaptado)

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