Na maior parte do mundo, mas principalmente nos países latinos, que têm culturas muito imediatistas e resolvem as coisas de forma muito rápida, as pessoas pensam que planejar é uma atividade destinada unicamente às grandes empresas. Enganam-se redondamente: nos pequenos negócios, na família e mesmo no cotidiano das pessoas, planejar é preciso. Por que? Por dois únicos motivos: Para diminuir o custo das atividades, pois hoje em dia dinheiro não está fácil de ganhar; e para obter vantagens. Para que possam ser entendidos estes dois porquês, vamos a um exemplo simples: duas pessoas amigas resolvem levar suas famílias à Disney, nas férias. A primeira pessoa se planeja para fazer a viagem, mas a segunda não. Ambas farão o passeio e se divertirão bastante. Contudo, a primeira família que estudou a situação dos voos, resolveu descer em Fort Lauderdale, cidade distante 340 Km da Disney; alugou um carro e fez o restante do percurso por via terrestre. A segunda família, que foi direto para Orlando, cidade que fica à 20 km do parque, pagou 1000 dólares americanos a mais por esta comodidade, pois também teve que alugar um carro para se locomover na cidade. Ou seja, a primeira família reduziu consideravelmente os custos de sua viagem. Por outro lado, quando se encontraram em um parque num final de tarde, perceberam que a primeira família já tinha visitado doze atrações do parque, enquanto a segunda, havia desfrutado de apenas seis. Trocando informações do porquê desta diferença, a família que não planejou a viagem descobriu que a primeira havia comprado com um agente de viagens no Brasil, um tal FAST PASS, uma espécie de fura filas oficial dos parques em Kissimmee (cidade da Disney) e Orlando, na Florida. Segundo diferencial da viagem da família planejadora: vantagem sobre a segunda família, pois recebeu mais atrações por ingresso pago, mesmo considerando o preço do FAST PASS.
Portanto, o planejamento conduz a vantagens e a menores custos, mesmo para famílias ou pessoas físicas, naquelas atividades que envolvem maior desembolso de recursos financeiros. Mas planejar não é complicado? A resposta é não, porque já fazemos uso de parte dele no nosso cotidiano, mesmo sem perceber que estamos planejando. Vamos imaginar o planejamento como uma máquina de moer carne: temos o pedaço de carne a ser moída na entrada da máquina; dentro da máquina uma série de engrenagens para transformar a carne em pedacinhos na saída dela, que serão úteis na elaboração de pratos como molho à bolonhesa, linguiça, ou pastel de carne.
Comparando um processo de planejamento à máquina da figura, pode-se dizer que:
- A carne em pedaços são as informações que coletamos no ambiente em que vivemos, mais as informações sobre nós mesmos (nossos pontos fortes e nossas fraquezas);
- A carne que não foi bem moída deve voltar para o prato do topo para ser mais triturada; estas são as estratégias, rumos que necessitam ser mais explorados e detalhados;
- A carne que já passou duas vezes pela máquina são os objetivos estratégicos de cada pessoa que precisam ser transformados em pratos (linguiças, pastéis e molhos) através de ações práticas;
- Os mecanismos da máquina que fragmentam a carne equivalem aos modelos mentais que ajudam a transformar o que está disponível no ambiente externo e nas pessoas, em estratégias e ações úteis ao atingimento dos objetivos.
Comparando o exemplo apresentado com a máquina de moer carne, podemos dizer que os fatores que impulsionaram a viagem da primeira família foram:
Pedações de carne = informações dos ambientes: Disponibilidade de passagens mais baratas via Fort Lauderdale; disponibilidade de FAST PASSES nas agências de turismo; computadores pessoais ou tablets ou smartphones disponíveis na família; conhecimento de como utilizar a Internet para pesquisas; disposição e tempo de membros da família para fazer as pesquisas; falta de recursos da família para fazer viagens mais caras;
Carne não muito moída = estratégias: Decisão de viajar por menos; intenção de aproveitar as facilidades oferecidas na viagem;
Carne totalmente moída = objetivos detalhados: Comprar passagens via Fort Lauderdale à prazo; alugar carro pela Internet no aeroporto de Fort Lauderdale; comprar FAST PASSES para toda a família, verificando se, e onde há desconto pelo volume da compra; marcar hotel de preço razoável; comprar bilhetes para os parques da Florida;
Engrenagens da máquina = modelos disponíveis: Agências de viagens com pacotes Fly and Drive, Internet, sites especializados em voos, sites especializados em hotéis.
Para testar o entendimento do processo de planejamento numa família, faça agora um exercício, adequando a história familiar a seguir aos quatro elementos da máquina de planejamento.
Um pai de família de classe média, conseguiu fazer boa economia e comprou um imóvel num bairro requintado. Tirou férias de um projeto que vinha desenvolvendo na empresa onde trabalha para ajudar sua família a se mudar; e matriculou seu único filho numa escola do bairro sofisticado para o qual mudaram. Após o primeiro dia de aula, o filho chegou em casa gritando “Pai! Mãe! Que escola maravilhosa!”. O pai, se espantou, pois o filho nunca foi tão chegado aos estudos assim! Mas o menino continuou: “é que a professora falou que se nós passarmos de ano, nós vamos à Disney!”. O pai ficou preocupado porque para ir à Disney, é necessário pagar mensalmente um carnê de prestações para que a criança, caso seja aprovada, possa se beneficiar do passeio. Mas a família acabou de comprar um imóvel caro e está sem recursos para pagar o tal carnê.
Uma reunião aconteceu então entre o pai, a mãe e o avô do menino: “precisamos explicar ao nosso filho que, lamentavelmente, no primeiro ano dele nesta escola não será possível manda-lo à Disney”, diz o pai. Logo a seguir, a mãe pondera: “realmente não temos dinheiro para fazer isto hoje, mas temos um bom potencial para conseguir este recurso adicional em curto espaço de tempo. Eu mesma deixei de dar aulas quando estava grávida de nosso menino, mas hoje me sinto mais preparada para atuar em meio expediente; e soube que o colégio dele está precisando de um professor para a minha disciplina. Talvez seja a hora de voltar a atuar”. O pai achou ótima a proposta e lembrou que quanto mais cedo voltasse ao projeto na empresa, mais rapidamente voltaria a receber horas extras pela jornada estendida que a atividade exige. Por fim, ocorreu ao avô vender um pequeno terreno de sua propriedade, que dá a ele mais despesas do que proveito, e contribuir para a viagem do neto. E a família acabou decidindo, com base em incentivar o menino nos estudos e na integração dele à nova escola, que tentariam manda-lo à Disney.
Como ficariam os quatro itens da máquina para esta história? Quais são as informações relevantes dos ambientes? Quais são as estratégias? Quais são os objetivos detalhados? E quais são os modelos disponíveis no planejamento desta família? Pratique!
Instrutor Walter Gassenferth
Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial