O primeiro fator de desmotivação são as tarefas repetitivas e de ciclo curto, com finalidade distante da percepção dos executores e pautadas por padrões rígidos descritos de trabalho. Sob essas condições, os problemas não são resolvidos ou, no máximo, encontram soluções paliativas. Os funcionários habituam-se às regras, aos problemas, ao baixo desempenho e desenvolvem um elevado grau de tolerância, o que inibe e descaracteriza a necessidade de busca de melhoria de desempenho.

Em organizações paternalistas, as áreas de treinamento limitam-se a fazer o levantamento das necessidades e inscrever funcionários em cursos sobre técnicas modernas – aqueles que estiverem na moda. A maioria, porém, não consegue implementar o que aprende. Um profissional só assimila uma nova técnica quando percebe que atingiu seu limite de competência em determinado assunto. A partir daí, ele não sente o risco de não conseguir resolver os problemas seguintes. Por isso, precisa ser desafiado em sua competência para sentir exatamente onde está mais fraco. Nessa situação, com certeza, solicitará cursos que aumentem sua capacidade de contribuição.

Além do foco na tarefa e da alienação quanto a resultados, as mudanças abalaram também o conceito de lealdade. Muitas gerações de profissionais formaram-se acreditando que deviam lealdade à empresa e ao chefe. Uma vez desligadas da organização, essas pessoas percebiam que não tinham competência e preparo porque haviam sido leais à empresa e não à profissão, ou melhor, a própria carreira. Assim, durante o período em que o normal era não questionar, não mudar, criou-se um contingente de pessoas alienadas e descomprometidas com os resultados, o que só pode ser obtido com o comprometimento das equipes e o uso efetivo da competência de cada um.

As organizações paternalistas acostumaram os funcionários a contar com estímulo externo para motivá-los e impulsioná-los: promoção por tempo de casa, plano de carreira, aumento por mérito (lealdade ao chefe), tolerância às restrições, ao mau desempenho, baixo turnover. O paternalismo é confortável, pois passa longe das exigências do crescimento pessoal e do desenvolvimento profissional. Os gestores são hoje cobrados por um desempenho muito acima da média anterior e têm também de obtê-lo de suas equipes. Mas, se não mudarem a forma de tratar seus funcionários, conseguirão muito pouco.

As novas gerações de profissionais não conhecem o paternalismo. Estão acompanhando privatizações dolorosas, fusões e aquisições nas quais, rapidamente, são descaracterizados os ambientes estáveis e de baixo desempenho. Os novos profissionais, independentemente da idade que tenham, não gostam de ser tratados como crianças que não sabem nada. É essa geração que precisamos manter motivada para dela obter os melhores resultados.

É interessante observar o comportamento das crianças quando saem em excursão escolar ou vão a um acampamento de férias: arrumam suas camas, lavam a louça e a roupa, limpam os quartos. Em casa? Nem pensar! Quando não tem quem faça essas tarefas para elas, sentem o risco de não fazer nada, e isso é um fator de motivação. A ação deixa de ser uma simples tarefa e se transforma em necessidade: portanto, tem de ser executada. Assim, o motivo passa a existir.

A percepção de risco é a base da formação pessoal, pois o indivíduo cresce quando a tem claramente. Desafiado em sua competência e percebendo que atingiu seu limite, o profissional se automotiva para executar o trabalho que lhe foi entregue. Se conhece os riscos que seu superior e ele próprio estão correndo, caso o trabalho seja feito para “cumprir tabela”, ele se compromete com a qualidade e com o resultado da área.

Quando o paternalismo das empresas é reduzido ao mínimo, as pessoas concluem que a formação, o desenvolvimento profissional e a motivação são de responsabilidade de cada um e não da organização. Cabe ao gestor, portanto, mudar esse enfoque, promovendo situações em que o risco seja sentido por todos. Ou seja, cabe ao gestor formar equipes que tenham como base a busca do risco compartilhado.

Instrutora Celisa Gonçalves

Consultora associada à LCM Treinamento Empresarial Ltda

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