Ao contrário do que muitos pensam, o teletrabalho não é um privilégio ou prêmio reservado para poucos colaboradores escolhidos a dedo. Em uma indústria, como já vimos, o trabalho remoto não é aplicável para vários setores, como linhas de produção, manutenção e logística.
Por outro lado, em muitas empresas o trabalho remoto faz parte da cultura organizacional estando previsto no contrato de trabalho e descrição de vários cargos e funções. Isso é bom para os profissionais mais disciplinados e organizados, mas é assustador para os que não são.
OPORTUNIDADES PARA O COLABORADOR
1. Mais tempo livre
Vários estudos e pesquisas comprovam que o paulistano consome, em média, duas horas por dia para se deslocar de casa para o trabalho e do trabalho para casa. Segundo a Moovit, empresa especializada em mobilidade urbana, esses números são próximos de outros grandes centros como Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte e Recife.
Descontando os finais de semana, feriados e férias, trabalhamos mais ou menos 230 dias por ano. Agora faça as contas. São 460 horas por ano. Isso equivale a quase dois meses de trabalho desperdiçados nos congestionamentos ou transportes públicos lotados. Essa economia de tempo é significativa até mesmo nos modelos de teletrabalho parciais.
Dois dias por semana trabalhando em casa representam, aproximadamente, 4 horas por semana. Parece pouco? Com esse tempo é possível, por exemplo, frequentar uma academia, fazer uma caminhada regular, um curso a distância ou, pelo menos, dormir um pouco mais. Nada mal.
2. Menos despesas pessoais
Menos dias trabalhando fora de casa significam também menos custos com vestuário, alimentação e cuidados com a aparência. Para aqueles que vão trabalhar de carro, há também a economia com combustível, estacionamento, manutenção e conservação do veículo.
Poucas despesas são tão subestimadas quanto os custos de se manter um carro. Para aqueles que vão até a empresa apenas uma ou duas vezes por semana pode ser mais compensador trocar o veículo próprio por um táxi, aplicativo ou transporte público. Um artigo publicado em novembro de 2019 no Portal Proteste relacionou o gasto mensal de sete veículos, de um Corolla à um Ka. A média foi de R$ 1.280,00 mensais.
Com esse valor é possível, por exemplo, bancar 40 corridas de 20 km com um motorista de aplicativo. Não é à toa que à medida que cresce o mercado de teletrabalho, cresce também a oferta de novos imóveis sem vagas na garagem. Possuir um carro já não é um símbolo de status e sucesso profissional, para boa parte dos jovens profissionais da geração Z. Por sua vez, trabalhar em casa e andar de Uber é.
Fonte: https://www.proteste.org.br/carros-e-mobilidade/mobilidade-urbana/noticia/quanto-custamanter-um-carro acesso em 6 de abril de 2020.
3 . Mais qualidade devida
Mais tempo livre em casa e menos despesas para trabalhar fora são ingredientes importantes para uma vida mais equilibrada e saudável. Mais tempo e oportunidades com a família, os amigos, para uma atividade física e desenvolvimento pessoal.
Deixando de lado os finais de semana e fazendo um cálculo extremamente simplista e utópico, dispomos ao longo de um dia 8 horas para dormir, 8 horas para trabalhar e mais 8 horas para a vida privada. Na vida real, essa conta não fecha pois, como vimos no item 1, o deslocamento consome, em média, duas horas. O tempo dedicado ao trabalho soma, portanto, dez horas e a vida privada fica restrita a 4 horas ou menos. O teletrabalho tem o poder de redistribuir o tempo do trabalho e da vida privada e corrigir essa equação.
4 . Menos distrações e interrupções
Após observar e cronometrar o dia a dia em diversas empresas, a pesquisadora Gloria Mark descobriu que trabalhadores são interrompidos, em média, a cada três minutos. Segundo a professora e autora do livro Multitasking in the Digital Age (o multitarefa na era digital, em tradução livre) depois de uma interrupção precisamos de mais ou menos 25 minutos para reconduzir o foco para a atividade original, isto é, para aquilo que estávamos fazendo antes da interrupção.
Colegas que surgem do nada sem avisar, ligações telefônicas, e-mails e mensagens instantâneas a cada três minutos sabotam a produtividade no ambiente de trabalho e geram outras consequências danosas como trabalhar além do expediente ou levar trabalho para casa. Os onipresentes ambientes sem divisórias com layout estilo open space promovem a integração e a colaboração entre funcionários bem como economizam espaço e reduzem custos com divisórias e mobiliários, mas podem ser muito prejudicais para profissionais que precisam de foco e concentração para executar seu trabalho.
Evidente que existem técnicas eficazes de gestão do tempo e trabalho em equipe capazes de contornar esse problema, como a técnica do pomodoro e o deep work*, no entanto, é inegável que entre 1. Trabalhar sozinho em casa ou 2. na empresa numa sala partilhada com outros vinte colegas a opção 1, no que tange a interrupções, é muito mais vantajosa.
* Saiba mais em: https://francescocirillo.com/pages/pomodoro-technique e https://www.calnewport.com/books/deep-work/
Fonte: https://news.gallup.com/businessjournal/23146/too-many-interruptions-work.aspx acesso em 6 de abril de 2020.
5 . Mais produtividade e criatividade
A relação entre o estresse e a criatividade é bem complicada. Na verdade, um ambiente desinteressante e sem nenhum estresse é quase tão prejudicial para a criatividade e a saúde quanto um ambiente extremamente tóxico e estressante.
A ciência comprovou que doses moderadas de estresse, como metas de vendas ou um prazo apertado, estimulam o pensamento criativo e alavancam a motivação. Ao que tudo indica, o teletrabalho proporciona não só uma rotina mais leve e saudável como também uma pequena dose de estresse, na medida exata, para estimular a criatividade.
Em uma pesquisa realizada para a Dell e a Intel, 29% dos entrevistados afirmaram que sua produtividade aumentou ao trabalhar remotamente e 38% perceberam que ficavam mais concentrados nos seus afazeres diários.
Fonte: Guia para implementar uma cultura produtiva de home office na sua empresa da Pluga.co e Trello
6 . Mais satisfação e motivação
Segundo o portal Great Places to Work, entre as 150 melhores empresas para trabalhar no Brasil, 65% possuem programas de trabalho remoto e 83% adotam as jornadas de trabalho com horário flexível. Como vimos, o teletrabalho proporciona uma soma de oportunidades e benefícios cada vez mais valorizada, sobretudo para novos talentos. Nove a cada dez jovens profissionais da geração Z consideram a flexibilidade no trabalho e o equilíbrio entre a vida profissional e pessoal muito mais importantes que o salário.
7 . Mais oportunidades de trabalho
Mais tempo livre pode significar também mais tempo para exercer outra atividade profissional e incrementar um pouco mais a renda do trabalhador remoto. Por outro lado, algumas regras simples devem ser observadas. Uma segunda atividade profissional pode ser exercida normalmente desde que seja fora do horário de expediente e não envolva o uso dos equipamentos e recursos da empresa como notebook, celulares e aplicativos.
Um trabalhador remoto que conduz uma pequena operação de e-commerce em paralelo não pode, digamos, deixar de participar de uma reunião a distância porque foi até o correio despachar encomendas e muito menos usar o notebook da empresa (e expor dados confidenciais) para publicar anúncios no Instagram. Na prática isso não é muito diferente do que já acontece nas relações tradicionais de trabalho.
Muitos trabalhadores presenciais também são, depois do expediente, professores, freelancers ou músicos. Até aqui nenhum problema. Por outro lado, muitas empresas não veem com bons olhos funcionários que vendem trufas e sanduíches naturais durante a jornada de trabalho. No trabalho remoto as regras são basicamente as mesmas. Vale o bom senso e o que for acordado entre a empresa e o colaborador.
Instrutor Sérgio Guimarães
Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial