O teletrabalho pode ser uma oportunidade para alguns e um desafio para outros. Segundo pesquisas trabalhar em casa é um sonho para muitas pessoas ao mesmo tempo que é um pesadelo para algumas. Você tem disciplina para trabalhar em casa? É uma pergunta cada vez mais determinante em entrevistas de emprego. Acredite. Não são todos que dão (ou querem dar) a melhor resposta.

DESAFIOS PARA O COLABORADOR

1. Mais distrações e interrupções

Pois é, o título deste item não está duplicado por engano. Distrações e interrupções são um desafio para quem trabalha na sede da empresa como também para quem trabalha em casa. Enquanto o teletrabalho oferece como benefício menos distrações e interrupções típicas do ambiente de trabalho ele, paradoxalmente, expõe o teletrabalhador a outro exército de sabotadores do foco e da concentração.

Saem as conversas paralelas, o vai e vem de colegas e o toque do telefone da mesa do vizinho, mas, por outro lado, entram o barulho da televisão, a campainha, o papagaio do vizinho e os filhos correndo pela sala.

Contudo, vamos concordar que manter a televisão desligada e negociar algumas regras e limites com os filhos e a família é muito mais viável que conter a horda de bárbaros que a cada três minutos aporta em sua mesa na empresa.

Em meio à quarentena da pandemia do Covid-19, recebi uma foto num grupo de WhatsApp. Na imagem, uma folha de papel colada numa porta trazia escrito o seguinte: Mamãe está em reunião das 9h30 às 11h00.

Não entre! As respostas para suas perguntas certamente serão: 1. Na geladeira, 2. Não, 3. No seu quarto, 4. Come uma fruta e 5. Não sei o que terá no almoço. Simples e eficaz!

2. Menos rotinas

Podemos até não perceber, mas as rotinas impostas pelo trabalho externo, como acordar cedo, tomar um banho, preparar o café, não se atrasar para pegar o fretado e estar com tudo preparado para a reunião das 10h00 contribuem para desenvolver o senso de disciplina e a organização e, de certo modo, alavancam a produtividade.

Por sua vez, o clima de informalidade do trabalho remoto com horários mais flexíveis e a possibilidade de trabalhar de chinelo podem se tornar grandes inimigos da rotina e da disciplina.

Para contornar esse cenário, os trabalhadores remotos mais experientes sugerem adotar em casa um conjunto aprimorado de rotinas, a exemplo das rotinas do trabalho convencional. Assim vejamos: acorde cedo e sempre no mesmo horário, faça um alongamento (ou uma pequena série de exercícios), tome um banho, prepare um bom café da manhã e troque o pijama por uma roupa confortável, só que mais apropriada para o trabalho.

Convém estar bem vestido e com boa aparência para, pelo menos, participar de reuniões à distância. Algumas pessoas, no entanto, fazem questão de vestir as mesmas roupas que costumam usar quando trabalham fora. Não é tão necessário, mas faz sentido. O traje faz a mente entender que é hora de trabalhar. Pijama é para dormir e descansar. Vai de cada um.

O mesmo princípio da rotina vale para o notebook. Evite trabalhar demais e além do expediente ligando (e desligando!) o notebook no mesmo horário que costuma chegar (e sair) da empresa. Adote a mesma regra para o intervalo do almoço. Desligue o notebook e aproveite a oportunidade para curtir a família. Vale a pena repetir: rotinas são importantes e contribuem para aprimorar o senso de organização e controle o que, comprovadamente, aumenta a produtividade e reduz o nível de estresse.

Seis passos para uma rotina de trabalho a distância eficaz

No final do dia registre numa lista de tarefas entre 3 a 6 atividades de maior valor agregado (isto é, aquelas com potencial de gerar mais resultados) que você precisa realizar no dia seguinte. Conclua a lista relacionando as pequenas atividades de rotina e de pouca importância do dia a dia que você também precisa atender. Se preferir, siga esta mesma recomendação fazendo no final da tarde de sexta-feira o planejamento para toda a semana. É mais prático, além de que, estimula o planejamento estratégico e de médio e longo prazo.

  1. Todos os dias reserve, aproximadamente, duas horas para atender imprevistos e participar de reuniões e chamadas não programadas.
  2. No dia seguinte, comece a jornada de trabalho no mesmo horário praticado na sede da empresa. Atenda primeiro às tarefas de maior valor agregado. Da mais importante para a menos importante. Não avance para as pequenas rotinas antes de concluir as atividades mais importantes.
  3. Faça uma coisa por vez. Evite a todo custo alternar entre telas do notebook ou tarefas diferentes. Desabilite os sinais de alerta e contenha o impulso de verificar e-mails e mensagens eletrônicas a cada cinco minutos. O ideal é agrupar e-mails e mensagens em dois blocos diários. Um pela manhã e outro à tarde.
  4. Entre uma atividade complexa e outra ou a cada 90 minutos, faça um intervalo de quinze minutos.
  5. Não trabalhe além do expediente. Desligue o notebook e encerre a jornada de trabalho no mesmo horário praticado na sede da empresa. Reserve os últimos 15 minutos do dia para fazer uma nova lista para o dia seguinte e um balanço entre o previsto e o realizado.
  6. Nota: O trabalho a distância permite flexibilizar os horários de início e encerramento do expediente. Por outro lado, convém que o trabalhador remoto esteja disponível para participar de reuniões e atender chamadas durante o mesmo período que seus pares da sede na empresa. Ou seja, mesmo no trabalho remoto, você deve estar disponível e comprometido com a empresa no horário estipulado em contrato e realizar suas atividades normalmente.

Respeitar os horários da jornada de trabalho também contribui para que se tenha mais foco e disciplina, além do mais, o risco de trabalhar demais é bem menor. Com o tempo e a prática, esta recomendação pode ser revista e negociada, mas sempre com muita cautela e disciplina.

3. Ambiente inadequado

Da altura das mesas e das cadeiras até a iluminação e o controle da temperatura, os ambientes de trabalho são planejados para oferecer conforto, segurança e a melhor experiência para os colaboradores.

O sofá da sala, a mesa da cozinha e a luminária da sala, geralmente, não são apropriados para o trabalho remoto.

Um ambiente de trabalho inadequado pode causar riscos ergométricos, problemas na coluna, lesão por esforço repetitivo (LER), acidentes domésticos e estresse. Trabalhar sentado na cama com o notebook no colo é uma fantasia. No item 2, disse que pijama é para dormir. Pois então, a cama também. Trabalhar na cama é um hábito prejudicial que deve ser evitado a todo custo.

Algumas empresas oferecem uma verba para aquisição de mobiliário adequado. Outras fornecem, além do notebook e celular, um kit padrão com mesa e cadeira. De todo modo, normalmente cabe ao teletrabalhador escolher o cômodo mais adequado e promover as adequações necessárias. Imóveis muito pequenos e regiões com oferta deficiente de internet são problemas bem comuns.

O ideal é um ambiente isolado (como um quarto ou escritório) com boa ventilação, iluminação natural e uma luminária complementar de luz branca. A posição da câmera em reuniões a distância pode interferir também na escolha do ambiente ou ângulo mais apropriado. Entre um cenário de fundo com uma estante repleta de livros ou o armário da cozinha com panelas penduradas, prefira os livros. Por sua vez, mesas e cadeiras devem seguir as recomendações de ergonometria da norma regulamentadora nº 17 do ministério do trabalho.

Veja mais em: http://www.guiatrabalhista.com.br/legislacao/nr/nr17.htm

4. Distanciamento social

O isolamento e o distanciamento social são mais dois pequenos desafios para os trabalhadores remotos. Há quem diga que o trabalho remoto enfraquece a network, reduzindo as oportunidades profissionais. São preocupações legítimas que podem, entretanto, ser contornadas com atitudes simples e um pouco de proatividade.

Nos itens anteriores já ressaltei a importância da agenda de visitas a empresa e reuniões presenciais bem como das reuniões informais a distância. Além disso, nada impede que o trabalhador remoto participe de confraternizações e happy hours com os colegas da empresa e aproveite a maior disponibilidade de tempo para ampliar sua rede de conatos fazendo cursos, frequentando uma academia ou participando de grupos de profissionais da mesma área.

5. Preconceito e conflitos familiares

Pessoas são complicadas. Do mesmo modo que ainda existem empresas e gestores que resistem ao modelo de trabalho remoto, temos também os vizinhos e o porteiro do condomínio que acham que quem trabalha em casa está desempregado e a família que pensa que o trabalhador remoto está sempre disponível para ir até a farmácia e o supermercado.

O trabalho remoto é uma alternativa inovadora que, de certo modo, ainda enfrenta algum conflito e preconceito entre as pessoas mais resistentes a mudanças ou menos informadas. Com o tempo, entretanto, este problema tende a ser cada vez menor.

6. Extensão da jornada de trabalho

O distanciamento e isolamento típicos do teletrabalho são dois grandes propulsores do foco e da concentração. Exceto nas empresas que oferecem salas exclusivas para o trabalho focado ou promovem alguns períodos do dia livres de interrupções, é de se esperar que o profissional, apesar do papagaio da vizinha, consiga se concentrar muito mais no isolamento de casa do que no ambiente caótico da empresa.

Na década de 70, o psicólogo húngaro Mihaly Csikszentmihalyi chamou de flow (estado de fluxo, em tradução livre) os nossos raros momentos de alta produtividade e concentração profunda. Durante o flow, ficamos tão envolvidos numa atividade que perdemos a percepção de passagem do tempo. Poucos momentos são tão gratificantes e produtivos como quando estamos em flow.

Por outro lado, trabalhar em casa e ter a oportunidade de concentrar-se tão profundamente pode causar indesejável efeito colateral. Por mais que o embalo do flow seja prazeroso e recompensador, é preciso fixar alguns limites com rigor e disciplina para não correr o risco de trabalhar muito além do expediente e perder a novela ou o horário da academia.

Não desperdiçar tempo no trânsito e ficar mais em casa não deve servir de desculpa ou justificativa para trabalhar mais e estar disponível o tempo todo. Basta um pequeno descuido para que a oportunidade de ser mais produtivo e ter uma vida mais equilibrada e saudável se transforme numa rotina estressante e cansativa estilo 24/7 (um neologismo para trabalhar sem descanso e sem interrupções 24 horas por dia e 7 dias por semana).

As recomendações são simples e eficazes. Não trabalhe além do expediente e entre duas tarefas complexas ou a cada noventa minutos, por exemplo, reserve 15 minutos para uma pequena pausa.

Aproveite este tempo para fazer alguns exercícios, lavar a louça, regar as plantas, ouvir música, ler, comer uma fruta, ligar para a mamãe ou jogar conversa fora com os amigos no WhatsApp.

Nota: Estes conselhos são especialmente importantes para as mulheres com filhos. Alguns estudos sugerem que as mulheres são mais propensas a aderir ao teletrabalho, sobretudo as que tem filhos pequenos. Contudo, mesmo nas famílias onde os homens dividem as atividades domésticas com as esposas, as mulheres, em média, trabalham duas horas a mais e assumem 60% das demandas. Ao tentar conciliar as demandas do trabalho com a atenção aos filhos e as tarefas domésticas muitas mulheres acabam esquecendo de si mesmas e descuidando da saúde. Não é à toa que as mulheres sejam as maiores vítimas do estresse e esgotamento profissional.

Fonte: https://setorsaude.com.br/as-mulheres-e-a-sindrome-de-burnout/ acesso em 11 de abril de 2020.

 

Instrutor Sérgio Guimarães

Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial

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