Parte 4 – Previdência Complementar, Governança Corporativa e Crescimento do PIB
Em complemento ao sistema de previdência pública, que deve se pautar por critérios, de renda mínima e proteção social, existem programas de previdência complementar. Todos devem constituir um fundo previdenciário (ou investir para a sua aposentadoria), assim que começarem a trabalhar, contribuindo regularmente para constituir poupança que lhe sirva de renda na aposentadoria, complementando a pensão da previdência pública e resguardando o padrão de vida que desejam ter. E muito importante que todos se preocupem com isso hoje, inclusive os funcionários públicos de toda sorte que se aposentam com salários integrais – o Brasil não gera recursos para continuar sustentando aposentadorias integrais.
No Brasil, a previdência privada pode ser feita por meio de fundos de pensão constituídos pelas empresas em que os indivíduos trabalham, por fundos livres como o PGBL/VGBL, ou ainda pela montagem de uma carteira própria. Os fundos de pensão das empresas – que são fundos fechados – têm a vantagem de receberem a contrapartida da contribuição da patrocinadora, aumentado o nível de recursos investidos. Os VGBLs/PGBLs tem diferenças de tratamento fiscal e cabe cada um analisar qual é o melhor no seu caso específico. Além das questões fiscais, podem oferecer um seguro em caso de invalidez/morte e opção por renda vitalícia. Para quem tem disciplina e se interessa em aprender a investir, o melhor é ser o próprio gestor de seus recursos (em última instância, mesmo que utilize fundos de pensão, de previdência, etc. – você sempre será o gestor dos seus recursos, portanto quanto mais aprender e dedicar, melhor).
Vários pontos precisam ser observados:
1) Não existe tal coisa como “almoço grátis”. Tudo tem vantagem e desvantagem e é preciso analisar, caso a caso, seu apetite de risco e seu nível de conhecimento.
2) Um investimento nunca é bom para sempre. As condições mudam e é preciso rever posições com regularidade. Investir e achar que o investimento vai cuidar de si próprio é roubada.
3) Nenhum investimento é bom para todo mundo. As pessoas têm perfil de consumo, risco e dedicação diferentes, por isso o que é bom para um, pode não ser para outro. Um corretor de bolsa que passa o dia ouvindo boatos de mercado e olhando para telas de Bloomberg pode se arriscar em investimentos altamente especulativos e em bolhas, pois é fácil ver quando entrar e quando sair. Não é o caso se você é um mom and pap, um designer preocupado com as últimas tendências da moda, ou um engenheiro inteiramente dedicado ao desafio de um problema de construção.
4) Ouça, mas não acredite piamente em seu corretor, o vendedor de seguros ou seu gerente de banco. Eles dizem que têm seu interesse em mente, mas não é verdade. É o interesse deles que está em jogo. Precisam desovar os produtos do banco, têm metas para cumprir, fazer você girar a carteira para gerar corretagem e você é o meio pelo qual eles obtêm promoções, bônus e aumentos salariais. Isso não quer dizer que não façam boas recomendações, não ofereçam bons produtos nem tenham conhecimento do qual você pode e deve se aproveitar. Mas você tem que estar no controle.
5) O ponto principal que quero fazer e que tem a ver com o tema desta série de artigos é que, independente da forma que você escolhe para poupar, o mais importante é que você invista. Ou seja, coloque seus recursos em ativos que aumentarão de valor ao longo do tempo (transfira riqueza para o futuro). Em linguagem financeira, ativos que darão retorno no curto, médio e longo, prazos. Quando investe em um fundo de pensão da própria empresa, é preciso conhecer em que ele investe e quanto bem o gestor maneja seus recursos. Se ele faz um mau investimento – como nessas estórias que ouvimos por aí nos fundos de pensão de empresas estatais – é o dinheiro do participante que está sendo jogado no lixo e é ele que terá menos recursos para sua aposentadoria a não ser que o Estado ou a Patrocinadora entre cobrindo o rombo o que significa que o resultado da má gestão será coberto com o dinheiro do contribuinte, isto é, você, eu ou o funcionário da patrocinadora trabalharemos para fechar o buraco. Portanto, regularmente, tem que acompanhar e questionar o que estão fazendo com seus recursos.
Para que os gestores dos seus recursos, e as empresas nas quais são investidos deem retornos compatíveis, é preciso que haja boa governança – nas gestoras e nas empresas. Por isso você deve conhecer quais são os problemas de governança e as boas práticas propostas para evita-los, coibi-los e atenua-los. Você precisa conhecer governança para poder checar se a empresa na qual você investe e os gestores que contrata para gerir seu patrimônio exercem as melhores práticas. A boa governança corporativa se baseia em princípios tais como equidade de tratamento entre os proprietários, responsabilidade e prestação de contas pelos administradores e transparência, isto é, o provimento de informações necessárias e suficientes para a apreciação das questões e a tomada de decisões, a regular e periódica prestação de contas, etc. São inúmeras recomendações que visam proteger a propriedade e os direitos daqueles que são provedores de recursos financeiros. O seu conhecimento de governança, não diz respeito a um assunto para conselhos ou investidores institucionais apenas. Diz respeito ao seu bolso e a boa gestão dos recursos que você investe.
De forma geral, os recursos que você aplica são investidos diretamente ou indiretamente em títulos de dívida (debêntures, por exemplo) ou ações emitidos por empresas. Elas usam – ou deveriam usar – esses recursos para expandirem os seus negócios. Se bem investidos, darão retorno na forma de apreciação de capital, pagamento de dividendos ou juros, que se você reinvestir aumentará seu patrimônio. Coletivamente, o crescimento dos negócios de várias companhias, leva ao crescimento do nosso bolo econômico – o PIB – criando a possibilidade de sobrar um pedaço maior para cada um quando dividido.
por Silvia Pereira