As características acima apresentadas constituem o que se pode chamar de tecnologia do feedback eficaz. São maneiras de externar precauções e métodos cuja inobservância torna disfuncional (por destrutivo da comunicação interpessoal genuína) o processo de feedback. Ainda que rigorosamente aplicada, toda tecnologia de Ciência Social pode resultar, entretanto, em disfunções não previstas e menos ainda desejadas. Isso porque as técnicas são menos relevantes do que as premissas de valor e atitudes que as embasam. Foi essa a lição mais sábia que Douglas McGregor (*) legou à Ciência Social.

(*) Uma síntese da contribuição de McGregor é apresentada em dois artigos, um de Saul Gellerman e o outro de Kleber Nascimento, reunidos sob o título de Filosofia, Motivação e Desempenho Gerencial. Rio de Janeiro: INCISA, Série Desenvolvimento de Executivos, nº 009, 1976.   

Em síntese: a inobservância da tecnologia adequada torna o feedback destrutivo, mas não basta a aplicação rigorosa dessa tecnologia para assegurar ao feedback a eficácia mediante a qual a comunicação genuína conduz à certeza de relações. O domínio da tecnologia do feedback não é tudo, portanto, para esta garantia, e só terá utilidade à luz de uma perspectiva ético-psicológica do relacionamento interpessoal. É precisamente esta abordagem a proposição fundamental do presente artigo.

A dimensão Ética. Todo feedback pode ser classificado, quanto à autenticidade da mensagem transmitida, como verdadeiro ou mentiroso. Assim, do ponto de vista da natureza de seu conteúdo, o feedback só tem duas possibilidades éticas: verdade ou mentira. Não há meio termo; essas possibilidades não são polos de um continuum, mas posições essencialmente antitéticas. Não se trata de “mais verdadeiro do que mentiroso” ou “mais mentiroso do que verdadeiro”, pois qualquer extensão de inverdade é suficiente para classificar o feedback como mentira.

É indispensável ressaltar que “verdade”, no caso, corresponde à percepção que tenha o transmissor a respeito da mensagem que emite. Ele bem pode estar enganado, mas acha que não está. Portanto, neste caso “verdade” não se caracteriza em termos absolutos, objetivos, externos ao transmissor, mas em termos de verdade pessoal, subjetiva, daquilo que ele genuína e honestamente crê verdadeiro. O mesmo raciocínio se aplica a “mentira”. Mas é fundamental distinguir entre mentira (intencional, consciente) e racionalização.  Esta última consiste na alegação de motivos ou justificativas convenientes para o sujeito porque o poupam do ônus de ver as causas ou motivos reais de um problema, sem que o sujeito esteja consciente, porém de estar recorrendo a esse mecanismo psicológico de fuga. Pelo contrário, ele consegue desenvolver estruturas lógicas de raciocínio que o convencem da “verdade” de seus argumentos. A racionalização, portanto, se classifica como “verdade” e não como “mentira”.

A dimensão Psicológica. Além e independentemente do conteúdo, da substância, da veracidade, o feedback pode ser classificado segundo a motivação do sujeito. Enquanto a dimensão ética enfoca o que diz, a psicológica analisa por que diz.

Com efeito, a eficácia do feedback como instrumento de comunicação genuína com vistas à certeza de relações entre duas pessoas depende significativamente das razões, das intenções, da motivação, enfim, do transmissor. Todos sabemos que a mesmíssima mensagem pode provocar reações extremadas de rejeição ou de aceitação… dependendo de quem venha – ou melhor, dependendo da percepção do receptor quanto às intenções do transmissor.

Assim, do ponto de vista das intenções do transmissor, o feedback pode ser motivado por amor ou por desamor. Também aqui não há meio termo, “um pouco mais por amor do que por desamor”, ou vice-versa. É possível, apenas, imaginar um ponto neutro, ou de indiferença. Para efeito deste artigo, contudo, o feedback será visto como motivado por amor ou por desamor.

O sentido de “amor”, como aqui empregado o termo, é o mais amplo possível. Não se confunde com o sentido comum de amor entre duas pessoas. Antes, significa respeito genuíno pela dignidade de outrem como pessoa humana, sentimento de responsabilidade pelo bem-estar e crescimento do outro. Esse sentimento só será possível se existir o autorrespeito, que é a força em consequência da qual se é “compelido” a respeitar (“amar”), o outro. Quando alguém se preocupa muito em se ter, não consegue de dar, mas se está preocupado sinceramente em se dar, ele “se ganha”, instala-se o autorrespeito, e nem será preciso mesmo gostar do outro – e menos ainda amá-lo, no sentido comum, para respeitá-lo como pessoa humana. O que precisa haver é genuíno respeito recíproco, para que A e B atuem bem a dois, seja qual for seu relacionamento.

Evidentemente, o sentido de “desamor”, como aqui aplicado, se presta à qualificação análoga. Não se trata de inimizade, antipatia ou rejeição afetiva (embora essas condições possam existir na relação do transmissor com o receptor), mas de genuíno desrespeito ou desapreço à pessoa humana do outro.

 

Autor Kleber Nascimento

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