Muitas pessoas acreditam equivocadamente que a capacidade de se conectar com os outros é uma habilidade que cabe apenas a uns poucos sortudos. Na verdade, ela pode ser aprendida, desenvolvida, controlada e aperfeiçoada por qualquer pessoa. Afinal, é uma questão ligada à inteligência emocional[1].

Para Matthew Lieberman, da UCLA – Universidade da Califórnia em Los Angeles, conectar-se social ou profissionalmente a outras pessoas é tão fundamental quanto se alimentar, beber água ou se abrigar de perigos. Lieberman mostrou que a sensação de dor gerada tanto na perda de um relacionamento amoroso quanto na de uma conexão social ou profissional ocorre na região neural que nos alerta para as ameaças à nossa sobrevivência física. Isso deixa claro quão importante são as múltiplas formas de se conectar a outras pessoas.

Por ser a conexão ao outro uma necessidade humana fundamental, muitos equivocadamente acham que é fácil se conectar a todos com quem nos relacionamos no nosso dia a dia. Infelizmente, não é assim que funciona. Muitas vezes – contra nossos próprios interesses –, podemos ficar inertes no processo de interação com o outro, seja por timidez, cinismo, orgulho, seja por competitividade, ciúme, arrogância – e até mesmo por falta de competência!

Para ajudá-lo a vencer essas e outras barreiras, seguem aqui algumas dicas[2] que vão permitir criar conexões instantâneas com outras pessoas.

PROCURE CAUSAR UMA BOA PRIMEIRA IMPRESSÃO

Pesquisas mostram que a maioria das pessoas decide gostar ou não de você logo nos primeiros sete segundos iniciais de uma conversa. Uma vez formada essa primeira impressão, elas passam o restante da conversação buscando internamente justificativas para essa avaliação inicial. Isso é realmente assustador. Mas podemos tirar proveito dessa situação e nos conectar com mais efetividade.

No atendimento face a face, a primeira impressão é sempre determinada pela linguagem corporal. Assim, usar positivamente gestos, sorriso, olhar, expressões faciais é primordial. No atendimento por telefone, a voz e suas inflexões vão atrair ou não as pessoas para você. Usar um tom entusiasmado na voz, alternar o ritmo da fala, modular a intensidade no fim da frase, enfatizar palavras através de sonoridades distintas, sincronizar adequadamente a pausa ao que está sendo dito fará toda diferença em uma conversa. Lembre-se: o como sobrepõe-se ao o quê. Ou seja: a forma como você diz algo é mais importante do que a informação que você pretende passar para o cliente.

VÁ ALÉM DO SUPERFICIAL

No dia a dia, a primeira conversa com quem acabamos de conhecer tende a ser bastante superficial. Falamos sobre o tempo, sobre pessoas que conhecemos, sobre aspectos agradáveis de nossas atividades profissionais e até compartilhamos detalhes mais básicos sobre nós mesmos. Na verdade, buscamos tópicos seguros, agradáveis, que não geram conflito ou polêmica e que nos permitem expor minimamente quem somos. Enfim, concentramos nossos esforços para sobretudo parecer pessoas legais.

No entanto, se você realmente quer se conectar com alguém, precisa ir além disso: é necessário mostrar algo mais real e profundo. Revelar, por exemplo, quem você verdadeiramente é. Não é necessário ser muito detalhista ou focar apenas no seu lado pessoal. Na verdade, é importante dar alguma pista sobre algo que nos encante, nos engaje. Na maioria das vezes, se você criar essa abertura, a outra pessoa também o fará — e a conversa ganha outro nível.

FAÇA BOAS PERGUNTAS

Se a outra pessoa estiver um tanto hesitante em se abrir para a conversa, você pode encorajá-la a fazê-lo. Para tanto, levante questões substanciais, menos pontuais e mais complexas, que gerem a necessidade de outro falar mais expor mais detalhes. Por exemplo: em vez de perguntar O que você faz? prefira Por que você escolheu essa profissão? A resposta à primeira pergunta identifica apenas a profissão que ela exerce. Mas a resposta à segunda permitirá que o outro vá além da simples identificação da atividade profissional. Esse cuidado nos ajudará a conhecer e a entender o que move a outra pessoa — sem ir tão a fundo no lado pessoal.

APRENDA COM O OUTRO

Lieberman em suas pesquisas sobre neurociência afirma que o sistema educacional prevalente no mundo seria bem mais eficaz se privilegiasse o lado social da aprendizagem[3]. Para ele, a melhor maneira de ajudar um aluno com dificuldade no aprendizado de Matemática seria estimulá-lo a buscar ajuda com outro estudante. Ou seja: um aprende com o outro. Um compartilha abertamente o que sabe com o outro.

Por que não seguir esse mesmo princípio nas nossas ações de comunicação? Por isso, sempre enxergue o outro com quem você está tentando se conectar como alguém que pode ensinar muito a você. Como alguém que pode contribuir de forma expressiva para o seu aperfeiçoamento pessoal e profissional. Ou seja: o momento do encontro é uma excelente oportunidade de aprendizado e de trocas de conhecimento, experiências, vivências e emoções.

Essa maneira proativa de viver as conexões sociais proporciona ainda outros ganhos para o processo comunicativo. De um lado, o outro percebe que não é mero coadjuvante no processo. Na verdade, ele é tão importante quanto você. Afinal, ele está o tempo todo compartilhando com você saberes e experiências. Esse sentimento único intensifica e consolida a conexão.

APROVEITE A ABERTURA

Se o seu novo contato se abriu para a conversa, não o faça se arrepender disso. Sarcasmo, críticas ou piadas podem fazer a outra pessoa se sentir julgada ou se arrepender de ter lhe dado algum tipo de abertura. Crie empatia a partir daquilo que ela contou. Se você não concorda com as crenças, valores, princípios ou simplesmente algo que ela disse, aproveite para, com todo cuidado, revelar mais sobre você também.

PROCURE O QUE OUTRO TEM DE MELHOR

Quando entramos em contato com alguém pela primeira vez, a tendência é desconfiar do outro. Daí a achar que não gostamos dela é um passo bem curto. Não é, portanto, incomum que passemos boa parte do tempo da conversa buscando motivos que justifiquem esses sentimentos negativos – ao invés de nos concentrarmos em encontrar razões para gostarmos do outro.

Por isso, abandone essa postura antiprodutiva e concentre-se em achar pontos positivos do novo contato. Quando você espera o melhor das pessoas, elas são propensas a entregá-lo.

CHAME AS PESSOAS PELO NOME

O nome é parte essencial da nossa identidade. Ser chamado pelo nome faz com que as pessoas se sintam bem e valorizadas pelo outro. Ao chamar o outro pelo nome, você demonstra interesse e consideração e mostra o quão ela é importante para você.

Mas cuidado para não esquecer ou trocar o nome da pessoa. Ao conhecer alguém, procure guardar o nome. Utilize-o ao longo da conversa várias vezes. Evite utilizar querido/a, meu anjo, meu amor, amigo/a ou expressões semelhantes. Essa forma de chamar o outro pode fazer com que ele se sinta desconfortável pelo excesso de informalidade ou por parecer ação invasiva. Para muitas pessoas, ao serem chamadas assim, tem a percepção de que você não está dando a elas a devida importância.

Tome cuidado também com apelidos e os nomes no diminutivo. Só chame alguém dessa forma se você tiver bastante intimidade ou se as pessoas assim pedirem.

DESATIVE SUA VOZ INTERIOR

Uma das maiores barreiras na hora de se conectar com alguém é deixar – mesmo que por um ínfimo instante – de ouvir atentamente o outro. É comum começarmos a pensar enquanto o outro ainda está falando. Ou seja: ficamos tão focados naquilo que queremos dizer, ou responder, e no quanto aquilo que a pessoa está dizendo nos afeta, ou tem ligação com algo que passamos, que deixamos de lado a conexão com o outro.  E, nesse processo, falhamos em ouvir.

As palavras seguintes até vêm, mas são vazias, sem significado. Esqueça, portanto, a voz interior se você deseja realmente se conectar com alguém.

SIGA A REGRA DE OURO

Esta é a regra: tratar as pessoas como elas gostariam de ser tratadas, e não da forma como você acha que deve tratá-la. Procure observar como é o perfil, a personalidade e, sobretudo, os gostos de cada pessoa com quem você mantém contato. Essas observações lhe darão seguras indicações de como você deve agir, tratar e conduzir-se em relação a elas.

Instrutor Carlos Alberto Motta

Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial Ltda

[1] Inteligência emocional é um conceito relacionado com a chamada “inteligência social”, presente na psicologia e criado pelo psicólogo estadunidense Daniel Goleman. Um indivíduo emocionalmente inteligente é aquele que consegue identificar com facilidade as suas emoções. Entre as características da inteligência emocional está a capacidade de controlar impulsos, canalizar emoções para situações adequadas, praticar a gratidão e motivar as pessoas, além de outras qualidades que possam ajudar a encorajar outros indivíduos.
[2] Adaptado do artigo 11 powerful ways to create an instant connection with anyone, de Travis Bradberry.
[3] A Teoria da aprendizagem social afirma que as pessoas podem aprender a partir da observação de outras pessoas que praticam um determinado comportamento. A chamada aprendizagem social explica a natureza das crianças de aprenderem ao observar pessoas ao seu redor e eventualmente imitá-las.

NEWSLETTER

Receba as novidades da LCM Treinamentos