O Brasil é hoje um dos países no mundo mais difíceis de se fazer negócio, fruto da enorme burocracia, dos impostos impeditivos, e de várias leis que afastam o desenvolvimento em nome do ambiente social. Do ponto de vista cultural, uma empresa operando no mercado brasileiro sofre efeitos de uma cultura ímpar, que quando bem compreendida em sua diversidade institucional e comportamental, credencia a empresa a operar satisfatoriamente em vários outros mercados no mundo. Ou seja, o mercado brasileiro tornou-se uma espécie de música New York, New York para os negócios: “If I can make it there, I will make it anywhere” (Se posso fazer lá, farei em qualquer lugar).

Para entender melhor o comportamento dos profissionais deste mercado é necessário conhecer características culturais que auxiliam e outras que dificultam as operações de uma organização no Brasil. De acordo com Motta e Caldas (2003) e com Hofstede (2001), numa análise organizacional dentro do contexto cultural brasileiro, encontram-se as seguintes características deste povo ambíguo e plural:

1. Características interessantes, que geram oportunidades às empresas:

1.1. Flexibilidade e adaptabilidade: Aptidão de trabalhar e conviver em condições e ambientes diferentes daquele de sua ocorrência natural; flexibilidade em adaptar-se ao diferente, ao novo;

1.2. Sociedade baseada nas relações culturais: Na sociedade brasileira, a malha de relações tem mais importância que o indivíduo, criando assim a possibilidade de maior proximidade ao centro de poder de um grupo;

1.3. Aversão à incerteza: Esta aversão procura reduzir a níveis mínimos as situações ambíguas e aumentar a duração da relação organização-membro;

1.4. Orientação de longo prazo: As pessoas dão valor às orientações de longo prazo, pois esta é uma forma de evitar mudanças inesperadas, apesar de não conhecerem os métodos que levam às orientações acuradas de longo prazo;

1.5. Resiliência: Fundamental no ambiente empresarial dos dias de hoje, a capacidade de suportar a pressão de situações adversas.

2. Características preocupantes, que propiciam ameaças às organizações:

2.1. Tendência à aversão ao trabalho metódico: A dissociação das ferramentas metodológicas do cotidiano do trabalho, sob a alegação que “a teoria, na prática é outra”, dificultando o alcance de resultados positivos repetidos no longo prazo;

2.2. Paternalismo: Domínio moral e econômico de determinado líder sobre os liderados, que os leva a esperar sempre a direção apontada por este personagem;

2.3. Tendência à centralização do poder dentro dos grupos sociais: A falta de confiança de que as pessoas conseguirão fazer sua parte, causando um excessivo desgaste ao líder, além de prejudicar a confiança e a capacidade de tomar decisões dos liderados;

2.4. Distanciamento nas relações entre diferentes grupos sociais: A falta de mecanismos de aproximação das diversas camadas sociais, comprometendo a pluralidade de perfis atuando sinergicamente sobre determinado problema social ou empresarial;

2.5. Passividade e aceitação nos grupos menos favorecidos: Excessivo respeito à hierarquia, criando inclusive uma graduação social, causando uma dependência de movimentos de cima para baixo nos grupos sociais.

3. Características de difícil classificação para as empresas:

3.1. Mais sonhador que disciplinado: A disciplina ajuda a manter os custos da empresa sob controle e a harmonia entre as áreas; contudo, a imaginação é poderosa no desenvolvimento de novos produtos e novos negócios;

3.2. Individualismo: Característica positiva para se criar uma inovação, mas que compromete o trabalho em equipe;

3.3. Distância do poder: Mantém as desigualdades sociais no país, mas gera insubmissão nas pessoas aos níveis hierárquicos mais altos de uma organização;

3.4. Operacionalização Ad Hoc das tarefas: O “Jeitinho” brasileiro de tomar caminhos mais curtos para resolver problemas pode ser salvador algumas vezes, mas em outras compromete a seriedade de um processo de negócio.

Portanto, deve-se observar e respeitar estas características, muito comuns aos profissionais que atuam no mercado brasileiro, quando da escolha das funções a serem desempenhadas por cada um deles, garantindo assim uma razoável possibilidade de alto desempenho em suas atuações e, consequentemente, em seus resultados.

 

Instrutor Walter Gassenferth

Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial

NEWSLETTER

Receba as novidades da LCM Treinamentos