No Moderno Dicionário da Língua Portuguesa, uma das definições de padrão é “um projeto, método ou sistema tão amplamente utilizado que se tornou modelo, apesar de não ter sido reconhecido oficialmente por qualquer comitê”. Por outro lado, segundo a Fundação Getúlio Vargas, o objetivo de um curso de pós-graduação é “Formar executivos de empresas privadas, governamentais e do terceiro setor, levando aos talentos do nosso país instrumental necessário para desenvolver seu potencial e agregar valor às empresas onde atuam, estimulando o desenvolvimento de sua região, nos mais diversos segmentos” (Disponível em http://management.fgv.br/missao). De acordo com a Fundação Dom Cabral, num programa de desenvolvimento gerencial “… as discussões acontecem em alto nível, sempre voltadas para a aplicação prática dos conceitos dentro da empresa. Os professores que conduzem esse processo têm sólida formação acadêmica e ampla vivência do dia a dia empresarial, aprimoradas constantemente pela interação com os clientes e parceiros”. Para que os programas de pós-graduação ou desenvolvimento gerencial possam ter uma padronização, alinhando todos os seus educadores num discurso uníssono, uma ementa, ou seja, uma espécie de sumário é desenvolvida para cada disciplina, além de um conteúdo programático, que é o detalhamento dos conhecimentos habilidades e atividades, ordenados em sequência lógica, possibilitando assim o alcance dos objetivos preestabelecidos em um processo de ensino/aprendizagem.
Contudo, olhando pelo lado da Andragogia, que “é a arte ou ciência de orientar adultos a aprender”, de acordo com a definição de Malcolm Knowles, uma pós-graduação ou um desenvolvimento gerencial deve procurar ser o mais flexível possível com vistas a capturar a atenção dos profissionais que estão sendo orientados, levando em conta o perfil e as situações em cada turma de adultos. Temos então aqui um conflito: A necessidade de padronizar o que é passado a cada turma, visando garantir a mesma cara para cada disciplina aplicada, versus a adaptabilidade do material apresentado às características de quem será orientado, e ao perfil e aptidões do orientador.
Em função da crescente demanda por cursos de pós-graduação e desenvolvimento gerencial, experimenta-se hoje um ponto de transformação, onde algumas escolas de negócio brasileiras apostam na padronização de tudo: Apostilas, slides, provas, cases, filmes, quiçá a ordem e a forma de apresentação dos temas que envolvem cada disciplina. Isto é a padronização levada ao limite, que reduz custos, mas que também diminui a qualidade de cada instituição, retirando uma de suas grandes vantagens competitivas e talvez o grande atrativo para que o profissional deixe um pouco de lado o dia-a-dia do trabalho e dedique-se ao aperfeiçoamento de suas competências: A equipe de professores. Neste caminho, em um curto espaço de tempo, atores poderão desempenhar o papel de educadores, uma vez que os engessados scripts, no dicionário “um conjunto de instruções que executam uma função, usado normalmente com uma linguagem macro ou linguagem em lote”, permitirão esta prática.
Acontece que educação é bem mais que isto; citando Paulo Freire: “Não basta saber ler que Eva viu a uva. É preciso compreender qual a posição que Eva ocupa no seu contexto social, quem trabalha para produzir a uva e quem lucra com esse trabalho”. Para tal, um mediador experiente no tema discutido é melhor que um excelente interpretador de scripts. Em resumo, uma padronização via ementa e um conteúdo programático bem detalhado e sedimentado são instrumentos suficientes para estandardizar uma disciplina, deixando para cada professor o desenvolvimento do seu plano de aula, que deve considerar, sem equívocos, os conteúdos programáticos definidos, mas também o perfil, as competências e o momento dos orientados.
Instrutor Walter Gassenferth
Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial