Nestes tempos de final de modelos estruturais, todos eles são estressados ao máximo para garantir a sustentabilidade e continuidade da sociedade organizada, até a gradativa instauração de uma nova ordem. Na área dos negócios, caminha-se para um cenário de hipercompetição, com lançamentos de novos produtos num ritmo cada vez mais acelerado e com o aparecimento de um número maior de competidores devido à globalização.
Em ambientes competitivos as formas tradicionais de se organizar, chamadas de mecânicas, devem dar lugar às configurações mais orgânicas. Entretanto, mesmo estas organizações, em ambientes hipercompetitivos demonstram algumas fraquezas que as organizações mecânicas têm como virtude. Portanto, neste tipo de ambiente é improvável que companhias bem sucedidas sejam puramente orgânicas ou mecânicas, pelo contrário, precisam combinar estas duas vertentes, para obter o melhor de cada uma delas, visando conseguir vantagens competitivas.
A definição de Estrutura Organizacional Neural ou Estrutura em Rede Neural a seguir está baseada na declaração de Fernando C. de Almeida para a Revista de Administração de Empresas (1995):
As organizações administrativas têm se espelhado em novos modelos organizacionais para sobreviverem. O mais novo é o neural, que faz analogia direta com o cérebro humano: cada neurônio representa uma célula autônoma dentro dos processos organizacionais. As células podem ser um grupo de trabalho, uma área da empresa ou uma rede de empresas trabalhando em conjunto. Elas são responsáveis, integralmente, por um processo ou um subprocesso da empresa. Por consequência, a geração de seus produtos é feita de forma rápida e eficaz. Grande parte do produto gerado é elaborado e recebido pelas células e, após, convertido em informação e conhecimento. Outra característica do modelo neural é que não existe uma coordenação central, e sim uma descentralização do controle das atividades, das decisões e dos processos. Na forma tradicional, as estruturas hierárquicas são centralizadoras, sendo que cada área é controlada por uma entidade ou órgão superior na estrutura organizacional. Nesse processo a informação flui de maneira lenta e não direcionada. A transformação de uma estrutura empresarial tradicional para uma neural requer a adoção de um processo denominado implosão. Trata-se do total abandono e substituição de estruturas, processo que exige grande apoio da alta administração, pois acarreta transformação radical. As organizações, conscientemente ou não, estão caminhando para o modelo neural em decorrência das vantagens deste modelo em relação aos tradicionais.
Ou seja, são estruturas organizacionais descentralizadas, com capacidade de autogestão da sua parte no negócio utilizando um órgão central, apenas para garantir um padrão para a passagem das informações necessárias entre as células no prazo requerido. Este órgão garante a inteligência das partes, gerando um padrão bem estruturado de objetivos e de formas de intercâmbio de informações entre as células, que atendam o negócio como um todo.
Não se faz uma rede neural sozinho. A evolução no domínio das técnicas de comunicação, o uso habilidoso e criativo das ferramentas tecnológicas, a internalização dos fundamentos, não podem ser processos apenas individuais, têm que ser coletivos.
Os maiores desafios são apresentados no campo das relações internas. A estrutura em rede neural rompe com as relações tradicionais, piramidais, de poder e de representação, possibilitando vivenciar nas relações corporativas as ideias e princípios emancipatórios, de “empowerment” de pessoas e organizações. Organizar-se em rede, resgata o conceito de fé no ser humano como um ser de capacidade. Na rede neural, o poder que tradicionalmente é vivido como poder sobre os outros ou sobre as estruturas, surge como potência para realizar coletivamente.
É necessário que pessoas sejam preparadas, formadas para as tarefas de sustentação, para manter a malha íntegra, o fluxo contínuo. Sejam chamadas de facilitadores ou de cabeças de rede, essas pessoas necessitam do desenvolvimento de competências, do domínio de instrumentos e técnicas de comunicação e mobilização, da internalização dos fundamentos da nova cultura organizacional.
As estruturas organizacionais em rede neural não substituem as organizações piramidais e não são alternativas viáveis para todos os tipos de organizações e objetivos. É impensável uma igreja ou um exército com sua organização em rede neural. No entanto, para um órgão de staff como uma Controladoria, que tem que operar como um consultor da alta gerência ou de toda a cadeia gerencial, e também como um especialista em diversas áreas, tais como planejamento, controle orçamentário e de resultados, sistemas de informação gerencial, processos operacionais e viabilidade de projetos, este tipo de estrutura organizacional se adéqua a todos os objetivos de “empowerment”, criatividade e autonomia que este requer de seus profissionais.
Instrutor Walter Gassenferth
Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial