À exemplo da física quântica, que nos mostra que as leis cartesianas da física newtoniana não se aplicam ao mundo subatômico; as empresas, que também possuem regras bem definidas para o seu funcionamento, devem entender que no mundo operacional do cotidiano de seus empregados estas regras têm conotações das mais diversas. A teoria quântica vem nos apresentar a realidade em novas bases, nas quais o observador, um mero figurante no universo cartesiano, passa a interferir diretamente no fenômeno observado, ou seja, o observador, dependendo da experiência idealizada para estudar, por exemplo, o comportamento de um átomo, em ultima instancia, decide o que quer ver, se o aspecto partícula ou aspecto ondulatório deste átomo. Da mesma forma, os objetivos gerais, as estratégias, as políticas e diretrizes de uma empresa necessitam ser adequadas ao observador, leitor e executor destas estratégias, diretrizes, etc.
No nível subatômico da organização, ou seja, nos corredores da empresa, a linguagem que se entende são os planos de ação, as rotinas operacionais e os projetos de curto e médio prazos, que são programados e executados pelo seu pessoal operacional. Portanto, estes devem refletir os objetivos gerais e estratégias da companhia, mas devem ter uma dinâmica e forma, de acordo com as características e cultura de cada área da empresa. Um objetivo estratégico de uma área de vendas que não envolva uma forte dinâmica de relacionamento com os clientes e uma boa dose de inovação, pelo menos nos processos da área, certamente será lido como inadequado e ineficiente pelo time de vendas. Em contrapartida, um objetivo estratégico da área de produção que não esteja padronizado, que não envolva um firme controle de custos e uma boa melhoria tecnológica, não será considerado apropriado pelo pessoal desta parte da organização. Ambos os objetivos estratégicos podem derivar da mesma estratégia e da mesma diretriz corporativa, mas as conotações de sua implementação devem ser oferecidas de forma compatível como cada observador/leitor na empresa.
A maneira mais prática de fazer esta translação do mundo corporativo dos executivos da empresa para o mundo operacional de seu quadro funcional envolve alguns passos, que podem ser comparados às quatro regras fundamentais de René Descartes, que inspirou o atual método científico-cartesiano:
PRIMEIRA REGRA DE DESCARTES: Evitar a prevenção e a precipitação, só aceitando como verdadeiras as coisas conhecidas de modo evidente como tais e não admitir no juízo senão o que se apresente clara e distintamente, excluindo qualquer dúvida;
Primeira regra nas empresas: Tomar sempre suas decisões baseadas em fatos, e ter suas diretrizes e estratégias acompanhadas, por escrito, da lógica de suas construções, evitando as interpretações de cada área, de cada profissional da empresa;
SEGUNDA REGRA DE DESCARTES: Dividir cada dificuldade em tantas parcelas quanto seja possível e quantas sejam necessárias para resolvê-las;
Segunda regra nas empresas: Distribuir cada parcela de dificuldade entre os profissionais das mais diversas áreas, sempre mostrando a conexão entre a participação de cada um na superação da dificuldade como um todo;
TERCEIRA REGRA DE DESCARTES: Conduzir em ordem os pensamentos, começando pelos mais simples e mais fáceis de conhecer, a fim de ascender, pouco a pouco, por degraus, até o conhecimento dos mais compostos, supondo uma ordem mesmo entre aqueles que não precedem naturalmente uns aos outros;
Terceira regra nas empresas: Partir das soluções mais simples, mas sempre incentivando alternativas mais elaboradas, em ordem de prioridade, seja para a resolução de problemas ou para o alcance dos objetivos estratégicos de cada área da organização;
QUARTA REGRA DE DESCARTES: fazer sempre inventários tão completos e revistas tão gerais que se fique certo de nada ter omitido;
Quarta regra nas empresas: Manter vários níveis de controle dos processos, projetos ou iniciativas da empresa; desde os controles mais gerenciais, àqueles mais detalhados necessários às operações da companhia.
Desta forma serão respeitados os princípios fundamentais da base da pirâmide da organização, que se assemelham a três conceitos básicos da Nova física:
CONCEITO DE ESTADO: O estado é a representação do que um observador conhece sobre o sistema em questão;
Nos corredores da empresa, o estado é como um profissional entende o sistema onde trabalha, seus eventos e necessidades;
CONCEITO DE EVOLUÇÃO: Um sistema físico fechado num estado V, evolui para um novo estado W depois de certo tempo;
Nos corredores da empresa, a evolução é a mudança de patamar, depois de certo tempo, do sistema onde o empregado trabalha; são os resultados da empresa, a real contribuição do profissional para estes resultados e os reflexos desta contribuição em sua evolução profissional e pessoal;
CONCEITO DE MEDIDA: Quando um sistema físico no estado é medido, o resultado da medida é um valor m com probabilidade p(m);
Nos corredores da empresa, isto significa dizer que enquanto não se observar/acompanhar o que está sendo medido, os resultados ficarão a mercê das probabilidades: As opiniões de cada grupo de observadores. Dois resultados distintos, então, sobre o mesmo evento irão conviver: O ruim, gerado por aqueles observadores que sempre veem a porção vazia do copo, e o bom, fruto dos profissionais que veem a parte cheia do copo. A solução para esta dicotomia é a mesma utilizada pela física quântica: Colapsar a medida, olhando realmente para ela, e comparando-a com uma referência, para que penda para um lado ou para outro, dando assim um real entendimento do evento.
Instrutor Walter Gassenferth
Consultor associado da LCM Treinamento Empresarial